É POSSÍVEL AMAR QUEM, EM NADA, NOS ACRESCENTA?!


A literatura cristã propagandeia fartamente em suas publicações religiosas o amor pelos inimigos. Em Mateus 5:44,45, Jesus Cristo declara: “continuai a amar os vossos inimigos e a orar pelos que vos perseguem; para que mostreis ser filhos de vosso Pai, que está nos céus, visto que ele faz o seu sol levantar-se sobre iníquos e sobre bons, e faz chover sobre justos e sobre injustos”. 

Todavia, nós bem sabemos que inúmeras religiões cristãs ignoraram os conselhos de seu maior ídolo pop e marcaram a história do cristianismo com guerras e banhos de sangue. Somente a Igreja Católica, nos quatro cantos do Planeta, graças às Cruzadas e à Santa Inquisição, promoveu uma das maiores carnificinas da História Humana. Fogueiras eclesiásticas alimentadas por ódio e ignorância são acesas até hoje e anseiam queimar vivos não só homossexuais ou mulheres que abortam, mas também tostar usuárias de minissaia ou até mesmo quem se aventura a colocar um inocente piercing no nariz. 

Em 2012, o administrador da Igreja Metodista Unida – localizada na cidade de Portland, Oregon, EUA –, Kay Pettygrove, colocou na frente de sua congregação um cartaz que dizia: “Deus prefere ateus amáveis a cristãos com ódio”. Na época, o Reverendo Augustus Nicodemus considerou que a igreja se equivocou ao assumir que “diante de Deus, o ódio é pior que a incredulidade”. 

Bem, sou homossexual, ateu e luto por inúmeras causas que muitas igrejas abominam. Se eu houvesse nascido há alguns séculos, talvez eu já tivesse sido torturado, imolado, enforcado, guilhotinado, afogado ou esquartejado por meu estilo de vida, ideias e descrença religiosa. Como estamos no Século 21, escapei da morte certa – tomara que eu nunca tope por aí depois de uma balada com um homofóbico cheio de recalque e raiva! –, mas não de ser vitimado pela mesma ignorância que motivou o assassinato de milhares de pessoas que simplesmente pensavam diferente. 

Às vezes me dá uma raiva danada daqueles que dizem que eu vou para o inferno – não por medo dele, já que nele não creio. Me dá raiva porque ninguém deveria desejar que alguém fosse condenado a se tornar prisioneiro de um lugar que, acreditam alguns, existe e é terrível. Outros religiosos, menos radicais, não rezam para que eu seja fervido em óleo na morada de Satanás, querem apenas que um justo castigo caia sobre minha cabeça ou minha língua, que eu pague pelos pecados nos quais não acredito. 

Sabe, tenho amigos que frequentam a igreja católica, outros evangélicos, alguns umbandistas, espíritas, budistas e poucos ateus, como eu. Todos eles são pessoas que me acrescentam, que estão abertas para o diálogo e que não veem em mim uma ameaça ou alguém que mereça passar por dor e sofrimento, a fim de que, por meio de coação, eu passe não só a aceitar a existência de Deus, mas também a venerá-lo cegamente. Uma turma tolerante, amável e inteligente, que vive sua religiosidade sem desdenhar da crença ou da descrença dos outros. São pessoas diferentes de mim e que muito amo, em parte, por aquilo que não temos em comum, pois eles me abrem a possibilidade do novo, do diferente e minam meus próprios preconceitos.

Aqueles que me desejam o mal simplesmente por eu não partilhar de suas crenças não merecem o meu amor, e não irão tê-lo. Também não irão justificar seus atos à custa de meu ódio, pois não quero o mal de ninguém (talvez apenas dos fãs de Luan Santana, mas isso é uma outra história). 

Diferente de Castello Branco, talento musical ao qual fui apresentado nas últimas semanas, eu não tenho talento para amar quem não me acrescenta. 

 

12/05/2014, segunda-feira

 

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