UM DIA LOUCO TRATADO COM CAFEÍNA NA VEIA

 

Ontem, tive um dia daqueles. Cheguei de um feriado – onde a diversão em excesso me rendeu um enorme cansaço, que ainda não se dissipou totalmente – e caí de paraquedas no trabalho, terreno minado, muitas baixas de uma semana que deveria ser santa, mas pecou por seus abusos.

 

 

No trabalho, o telefone tocou insistentemente. Meu escritório parecia mais uma repartição pública. Muito serviço, muita gente, muito barulho, tortura chinesa logo no dia seguinte a um feriado brasileiro? Ninguém merece...

 

O almoço também não foi lá grande coisa. O pessoal da cozinha do Restaurante Ipueiras, não me pareceu muito inspirado. Fizeram comida de hospital para os moribundos do fim de semana prolongado... Nada mais insípido e irônico.

 

Retornar para casa foi como espremer-me em um minúsculo Cavalo de Troia, onde crianças choravam, evangélicos pregavam e mulheres conversavam mais do que eu merecia ouvir naquele instante que clamor por inexistência. Os fones de ouvido e a voz de Bárbara Eugênia me protegeram da algazarra, mas, o que fazer quanto ao calor senegalês? Tentei abstrair meu desconforto, esforço inútil. Sofri até chegar em minha casa onde, após demorado e necessário banho, minha mãe aproximou-se como quem adentra a jaula de uma besta africana e me estendeu um pacote entregue mais cedo pelos Correios.

 

Ao ver o nome de Lunna Guedes, constatei que era um exemplar da Revista Plural, o que, de imediato, me deixou eufórico e fez com que eu esquecesse as mazelas do dia.

 

Tranquei-me em meu quarto – clandestino, egoísta – e cortei com uma tesoura sem ponta a lateral do envelope. A revista saltou de lá de dentro como um presente de amigo secreto: surpreendente.

 

Eu não sabia que a Revista Plural possuía um formato tão carinhoso com seus leitores! A edição que tenho em mãos, intitulada Cafeína na Veia, foi impressa em formato artesanal que nos salta aos olhos em sua capa em papel couchê sem bilho e na costura oriental, que une com delicadeza e firmeza as páginas do periódico.

 

Hoje cedo, por volta das 06:20 h, só de pura vingança, sentei-me em um dos bancos da Praça da Polícia Civil – a mais arborizada e próxima de meu local de trabalho – e, primeiramente, devorei sem remorso um gordo sanduíche de ovo, queijo e presunto, acompanhado de um generoso copo de café com leite.

 

 

Satisfeito meu primeiro apetite, corri para os braços do outro e comecei a degustar as páginas da revista. A competência na escrita de seus colaboradores, a delicadeza das gravuras que dão movimento aos textos ali talhados por seus autores, com agudeza de artesão; enfim, tudo, tudo mesmo, se revelou primoroso, caprichado, responsável e extremamente sensível.

 

O próximo número que chegar a minhas mãos, trará um texto meu. Quando penso nisso, rio de contentamento. Eu, que sempre escrevi sozinho, agora fazer parte de um projeto literário que envolve tantas mãos, mentes e almas. É um privilégio pelo qual estou muito feliz e grato. Espero que meu trabalho mereça figurar dentre aqueles que li até agora.

 

23/04/2014, quarta-feira

 

 

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