“TODO MUNDO PODE SER FABULOSO!”

 

Sabe, há semanas venho tentando desenvolver algo bacana para escrever sobre o dia das crianças. Desde o início do projeto, decidi que eu abordaria um tema que fosse além das fotos fofas – ou constrangedoras – de nossa própria infância, exaustivamente publicadas em redes sociais.  

Pensei nisso, pensei naquilo, quase desisti. Daí, assim do nada, me veio a ideia de homenagear a página CRIANÇA VIADA – BORN TO ARRAZAR, desenvolvida por Iran Giusti. Se você está lendo esse texto, é porque o próprio Iran permitiu sua publicação e de algumas fotos expostas em seu website. 

Bem, para quem não conhece, o CRIANÇA VIADA é uma página criada em 2012, na qual heterossexuais desencanados e homossexuais assumidos de ambos os sexos enviam fotos de quando eram crianças e autorizam a publicação das mesmas na home page. A única exigência de seu moderador é que seja “aquela foto”, repleta de atitude e liberdade de expressão, desde a mais tenra infância. São cliques cheios de graça, espontaneidade e inocência; o que inviabiliza a ideia absurda de que a sexualidade humana é uma opção ou que determinados padrões comportamentais na infância sugerem esta ou aquela orientação sexual. Não se trata de como falamos ou agimos, mas de quem somos. Todos nós.  

A página já sofreu muitos ataques e perseguições por parte daqueles que não compreendem sua real proposta; são acusações feitas por pessoas incapazes de perceber a importância social desse despretensioso projeto que apresenta a homossexualidade – com bom humor e leveza – como parte da vida do indivíduo, e não como hábito adquirido.  

Contra todos os rótulos sexistas, que impões padrões de comportamento para os gêneros masculino e feminino, as crianças posam para as fotos sem vergonha alguma de ser diferente da maioria dos meninos ou meninas. Radiantes, repletas de amor próprio e vitalidade; deixam-se fotografar como realmente são: pessoas fabulosas! Criaturinhas que ainda não tinham muita noção da barra que enfrentariam pela frente: todo o preconceito, violência e discriminação vigentes em nossa sociedade hipócrita e intolerante; que não poupa sequer menores de idade que não se enquadram no padrão estabelecido.  

Apenas quem foi uma criança viada sabe pelo que teve que passar para não perder o brilho e a alegria de viver. Tornar-se adulto, para cada um de nós, não foi nenhuma brincadeira, trata-se de uma luta cotidiana e na qual a maioria dos homossexuais e heteros de mente aberta precisa aprender a resistir sozinhos desde cedo. E, muitas vezes, somos reprimidos e castigados por aqueles que deveriam ser os primeiros a defender o direito de sermos quem somos: nossos pais. 

O que muitos adultos que decidem constituir família parecem não perceber é que as crianças não são frutos de seus desejos pessoais; mas criaturas individuais, com natureza, inclinações e gostos particulares. Julgar, maltratar ou rejeitar um filho por ser diferente é admitir a própria incapacidade de educar um ser humano. Se você não gosta dos trejeitos de seu filho, o problema é com você e não com ele.  

Em sua página, Iran Giusti deu um novo sentido à palavra “viado”. Transformou um vocábulo que simboliza homofobia e rejeição em um adjetivo carinhoso, despido da raiva injustificada e sadismo embutidos na voz de quem nos xinga nas ruas de nosso país, como se fugir à regra fosse o mais abominável dos crimes; quando, na verdade, é a diversidade que nos torna uma espécie única e bela.  

Como já dizia Caetano Veloso, “Gente é pra brilhar”. Portanto, independente de nossas sexualidades, sejamos papais viados e mamães viadas; não no sentido pejorativo, mas no de sermos livres para amar nossos rebentos exatamente como eles vieram ao mundo.  

Não tenham vergonha de seus filhos! Eles precisam de sua proteção e acolhida, precisam saber que são fabulosos não pelo que vocês queriam que eles fossem, mas pelo que eles são.

 

Emerson Braga 

Segue o link da página CRIANÇA VIADA:  

http://criancaviada.tumblr.com/

12/08/2014, domingo

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