Aqueles meninos presos na caverna da Tailândia me fizeram pensar em Platão, em nossa recusa de sair da caverna, mesmo quando deixá-la é questão de vida ou morte para nós mesmos e para os outros.

Dirijo aos jovens confinados sob uma montanha a mesma esperança que resguardo para nossos próprios encavernados, prisioneiros da prostituição infantil nos grandes centros de nosso país.  Como acontece na Tailândia, o Brasil ― principalmente na região Nordeste ― vem se tornando um destino cada vez mais buscado por abusadores e pedófilos, que procuram nossas praias a fim de converter a miséria alheia em lazer.

Por que não conseguimos nos apiedar e sentir empatia pelos milhares de meninos e meninas que também tremem de frio e medo no escuro das esquinas? Por que escolhemos deixar que nossa juventude se afogue nas taras monstruosas de uma sociedade conservadora na qual homens letrados devoram crianças analfabetas?

Que as autoridades tailandesas consigam salvar aqueles 12 meninos e seu técnico. Mas que também resgatem aquelas muitas crianças para as quais a compaixão humana não dirige suas orações. O mesmo serve para o povo brasileiro. Afinal, apesar de viverem longe dos holofotes das mídias hollywoodianas, nossas crianças invisíveis também sofrem quando morrem aos poucos.

Emerson Braga

06/07/2018, sexta-feira