E VOCÊ? QUAL O SEU TRABALHO?


Há alguns dias, passamos pela comemoração do Dia do Trabalho. Sempre que esta data se aproxima, lembro-me de alguns amigos e familiares que, por toda minha vida, tentaram me demover da ideia de ser escritor. Sob o argumento fundamentado no que o capitalismo tem de mais destrutivo, eles me perguntavam, sinceramente preocupados: “De que maneira você pretende viver, caso realmente se torne escritor?” 

A fim de tentar formular uma resposta para esta obtusa e inconveniente pergunta, nas primeiras horas do dia 01 de Maio, resolvi procurar no Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, o significado das palavras TRABALHO, PROFISSÃO, EMPREGO e OFÍCIO. 

Segundo o glossário, uma das definições de TRABALHO é “qualquer ocupação manual ou intelectual”. Opa! Então escrever é trabalhar duas vezes, visto que me utilizo de minha mão esquerda e de meu intelecto para produzir textos literários. Nenhuma das oito definições que achei para TRABALHO no dicionário Priberam citava retribuição financeira como razão única e fundamental para que trabalhemos. 

Segundo o mesmo dicionário, EMPREGO é uma “ocupação remunerada e determinada a que alguém se dedica”. Portanto, escrever é um trabalho pelo qual não sou remunerado, mas que não deixa de ser trabalho por não me garantir recompensa financeira. 

Meu emprego está vinculado à minha PROFISSÃO, que é cuidar para que pilhas de processos não se amontoem sobre minha mesa e para que as pessoas recebam adequadamente suas indenizações por terem sofrido algum dano físico ou perda humana causada por acidente de trânsito. Logo, entende-se por PROFISSÃO “a ocupação remunerada que desempenho e que é de conhecimento público”. Todos sabem o quanto aprecio escrever, mas não entendem que escrever – ao menos para mim – não é uma profissão, mas um trabalho edificador e prazeroso, sem o qual eu não seria um ser humano feliz. 

Mais que um TRABALHO, escrever é um OFÍCIO, “um modo de vida, uma função, um fim, um destino, uma obrigação, um dever”. Sim, pois escrever também é algo que nos impomos a fim de que nos sintamos vivos, é um serviço que prestamos por nós mesmos e para nós mesmos: cansativo, exigente e enlouquecedor... Mas também repleto de satisfação e gozo, quando o concluímos. 

A caneta, o lápis e o teclado são minhas ferramentas. Com elas, trabalho em bares, ônibus, casas de praia, filas de espera, leitos de hospital, camas de motel, elevadores, bancos de praça. Mas, diferente dos Workaholics, aqueles caras viciados em trabalho, tenho uma qualidade de vida da qual poucos podem gozar, isto porque trabalho dentro de mim mesmo. 

E lá, dentro desta salinha, é arejado, tem uma janela e uma boa ideia sempre sorri para mim.   


06/05/2014, terça-feira 

 

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