DOIS

 

Eu

Tu

Eu e Tu

AUSÊNCIA

Tua mão procura, encontra e toca a minha

CONTATO

A minha mão aceita sem restrições o toque da tua

ENCONTRO

Teu dedo apontador sobre o meu anular

PROIBIÇÃO

Tua mão descansa enternecida sobre a minha

INÍCIO

Tua palma corre arteira sobre meu braço

Segue tranquila até meu ombro

Onde é feita uma leve pressão

Giro minha cabeça e encontro teus olhos

Mergulhados em uma névoa de frágil robusteza

E teus grossos lábios entreabertos

Estendo meu braço e toco tua perna

Sinto teus pelos eriçarem

Relva embalada por impaciente brisa

Teus coração bate inquieto

E percebo teu amor quase explodir

Por detrás da pele de teu peito

Minha mente abre diante da loucura

E reconhece a agressividade sutil

Que teu semblante, aparentemente pacato, encobre

Respiras ofegante e levas tua mão à minha nuca

Meus cabelos deslizam por entre teus dedos

Revelados são os grãos de areia

Que ficam inevitavelmente presos às tuas unhas

Deslizo o corpo um pouco mais para frente

E levo minha outra mão até teu rosto

Enrubescido e delator

Por um segundo,

Tu vacilas e observas, com um rápido movimento dos olhos,

Minha mão sobre tua coxa

Ergo minha cabeça e encosto tua testa em meu queixo

Sinto a tua visão percorrer meu pescoço

Por toda a sua musculatura e extensão

Lentamente, deslocas tua boca na direção de meu maxilar

E beija-me a cicatriz que julgas ser tua

Envolvo-te em meus braços

E pressiono teu peito contra o meu

Suspiramos quase sem fôlego

Com tuas duas mãos, conduzes minha fronte para trás

E, com tremenda leveza,

Umedeces com a ponta de tua língua meu pomo-de-adão

Sinto que me quebrarei antes do gozo

Enquanto estremeço ao sentir tuas mãos

Pousarem em minhas costas feito em segura planície

Nos abraçamos e só então experimentamos nossos sexos tocarem-se

Embebidos de destilados líquidos corpóreos

A tua boca invade a minha e a minha pede licença ao entrar na tua

A tua saliva com gosto de vinho

E a minha ainda com o sabor caseiro do pão

As mãos descontrolam-se:

Sobem, descem, entram, saem

Dançam em uma valsa repleta de ternura

Desobedecem

O teu corpo peca no meu

E o meu macula o teu

O teu sangue ferve ao calor de mil silêncios

E o meu ainda congelado por teu hálito ensurdecedor

Nossas almas unidas, partidas

Por singela e afetada necessidade mútua

O gozo emerge do suco gástrico

Flui na ponta de nossos dedos

Evapora, fumaça de agradável cansaço

Manto de dormência sobre nossos genitais

Meus lábios nos teus lábios

Depois, tua cabeça em meu colo

Tu

Eu

Tu e eu

DOIS


Emerson Braga

29/06/2015, segunda-feira

 

  

Comments: 1
  • #1

    Marco A (Monday, 29 June 2015 11:22)

    Balé e poesia irmanados inspirando sensações divinamente carnais. Adoro esse poema!