AS MUITAS FASES DE LUA DE PAPEL

 

         Estou regressando de uma viagem feita em duas etapas. E a fiz sozinho, durante as madrugadas marginais que se sucedem em meu quarto.

 

         Livros são como terras estrangeiras, com idiossincrasias e linguagem próprias. Ler os dois volumes de Lua de Papel foi como assimilar um novo idioma por meio de uma bela história, contada com sensibilidade e franqueza pela intrigante escritora Lunna Guedes. Uma trama alinhavada com acuidade, que costura o tempo e o espaço de suas personagens a nosso curioso olhar de leitor.  

 

         Trevas e luzes revezam-se sobre as páginas que muitas vezes me pareceram um estranho diário, que conta a história não só de suas personagens, mas também a história daquela que o escreveu e a de quem o lê. Sensual eclipse que amalgama todos os envolvidos no processo de leitura.

 

É impossível não nos deixarmos atrair pelo magnetismo desse origami cósmico, cujo brilho se revela por meio de palavras escritas sem pressa, permeadas por silêncios escandalosos. Os caminhos parecem tão comuns e verossímeis que poderiam servir para a jornada de qualquer pessoa ― o que nos deixa mais íntimos das aguçadas linhas de Lunna Guedes. ― Porém, logo surgem os entroncamentos, bifurcações, becos sem saída, abismos e plataformas de voo. A leitura transforma-se em uma dança parecida com a vida: Surpreendente, imprevisível.

 

Em Lua de Papel não há crateras. Finas entrelinhas recobrem sua delicada superfície e formam imagens que ora parecem próprias do livro, ora reflexos de nossa humana solidão.

 

Lunna Guedes não teme ser um satélite na imensidão do universo. Daqui onde estou, logo após a leitura, ainda aprecio o brilho reluzindo sóbrio, verdadeiro e vivo, sobre as muitas fases de Lua de Papel.

 

Emerson Braga

 

04/02/2016, sexta-feira

Comments: 1
  • #1

    Adriana Aneli (Thursday, 04 February 2016 13:46)

    Se eu tinha todos os motivos para explorar a saga de Alexandra nos volumes que leio neste ano encantado, agora ganhei mais um - ou melhor - seis parágrafos de motivos para continuar página a página acompanhando as "palavras escritas sem pressa permeadas por silêncios escandalosos" de Lunna Guedes, minha mestre nesta nova hipótese de vida literária que se abre para mi. Emerson, parabéns pela franca e bem elaborada resenha. Através dela, inauguro com você um diálogo sobre o papel desta Lua crescente em nossas vidas.