SOBRE CRACHÁS E SOB ESCOMBROS

 

Nos dias que andei sumido, o plano era apenas cuidar de meu romance antes de enviá-lo para avaliação do Prêmio SESC de Literatura. Porém dois livros escritos por amigos maravilhosos chegaram às minhas mãos e, assim, tornou-se uma tarefa impossível manter a disciplina. Entre a revisão ortográfica e gramatical de um capítulo e outro, transgredi as regras que eu mesmo havia estabelecido e, ora me deleitava com o riso gostoso de CARA DE CRACHÁ, de Roberto Klotz; ora me entregava aos soluços de esperança presentes nas entrelinhas de SOB OS ESCOMBROS, de Cínthia Kriemler.

 

Não sou de ler dois livros ao mesmo tempo. Sei que escritores (principalmente os talentosos) são ciumentos de suas obras e preferem que nos enamoremos por um trabalho de cada vez. Todavia, Cínthia e Roberto são dois queridos que, creio eu, não se importarão com minha transgressãozinha, pois ― apesar de talentosos e ciumentos ― já dividiram muita coisa na vida. Então, por que não dividir este faminto leitor?

 

CARA DE CRACHÁ é um destes livros que resguarda em suas páginas leves e cheias de graça, a seriedade daqueles que têm algo de importante a dizer. Em seus contos divertidíssimos e pontuados por um sarcasmo elegante, Roberto Klotz nos apresenta a cidade de Brasília na forma caricata mais viva em nossos preconceitos (que veem a capital federal como uma cidade de gente corrupta, tomada por inércia laboral e povoada por pessoas frias e cinzentas) justamente para desmantelá-los e humanizar a cidade onde vive e que tanto ama.

 

No microcosmo de uma repartição pública, onde se desenrolam os causos hilários contados por Klotz, revela-se uma representação não apenas de Brasília, mas de todos os brasileiros. Nós ― cotidianamente mastigados por essa máquina burocrática, que nos enrijece a ternura e a gentileza ― que também somos capazes de realizar e vivenciar momentos de plena doçura, como o experimentado por von Silva e o pequeno e encapetado Tonim no conto 24 de dezembro.  

 

CARA DE CRACHÁ é isso: Rir das próprias mazelas para que despertemos da apatia e nos tornemos entes transformadores de nosso mundo lobotomizado, tão carente de ideologias e alegrias reais.

 

Já SOB OS ESCOMBROS, trata-se de um emaranhado de histórias que se arriscam a confessar segredos que jamais diríamos, pela vergonha ou pela dor que nos causaria a revelação. Daí, você me pergunta: “Então por que Cínthia Kriemler resolveu contá-las?”. Respondo: Porque alguém tinha que fazê-lo, ora!

 

A um olhar desatento, SOB OS ESCOMBROS pode parecer um livro difícil de digerir, que versa sobre separações, dores, culpa, mentiras dolorosas e verdades mais dolorosas ainda. Mas não é. A delicadeza e a força tão presentes na escrita da autora nos conduz à beira do abismo, o que torna a vertigem inevitável. Os escombros dos quais fala o título escondem a doçura, a coragem, o fio de esperança que nunca abandona corações inquietos. E esta inquietude permeia cada um dos personagens (humanos e não humanos) e entranha-se em nossa própria alma à medida que nos entregamos à leitura e caminhamos dentre trevas e luzes, em uma provocação aos sentidos, como no fenomenal conto Dia de Morte.

 

SOB OS ESCOMBROS não é um livro simplesmente para ser lido, mas medido, pensado, absorvido. É um convite à seguinte reflexão: “A vido que vivo permite que eu viva?”.

 

 

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Faça como fiz: LEVE OS DOIS!!!!!!!

 

Emerson Braga

 

 

10/02/2015, terça-feira

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