PROFESSOR

 

Em minha vida, tive excelentes professores e, alguns, nem tanto. Todavia, prefiro lembrar aqui daqueles que realmente me marcaram, pela vivacidade de suas oratórias, pelo amor à arte de educar, por me inspirarem e me transformarem em um ser pensante, questionador. 

 

Tia Railde, ainda na alfabetização, me dedicou tempo pessoal a fim de que eu aprendesse a ler e a escrever, artes que um dia me pareceram impossíveis de serem absorvidas. Foi a professora Edivânia, na 3ª Série, que percebeu que eu passava as aulas inteiras escondido nos fundos da sala, não para participar da bagunça da turma do fundão, mas para escrever sem que ninguém me amolasse. Foi ela que me apresentou livros mais sofisticados que os da Série Vagalume, me presenteou com Vidas Secas e, daí então, decidi o que queria ser na vida: escritor. Ainda não o sou, mas estou na estrada, procurando, procurando... 

 

Já no Segundo Grau, o Professor Sérgio Alencar me iniciou em Clarice Lispector, com sua subjetividade pulsante e suas magistrais entrelinhas; também me indicou autores internacionais e eternos, como Kafka, Dostoiévski, Victor Hugo, Edgar Allan Poe, Jane Austen, Italo Calvino, Patrick Süskind, Umberto Eco, dentre outros. Quando ingressei na Faculdade de Letras, a professora Coema, de Literatura Portuguesa, me iniciou na paixão pelos grandes escritores portugueses: Luís de Camões, Mariana Alcoforado, Florbela Espanca, Fernando Pessoa, Eça de Queirós... José Saramago, este eu descobri sozinho. O professor Myrson Lima, de Estilística, me despertou para a poesia – gênero do qual sempre tive receio por não dominar sua criação – mas do qual, graças a este maravilhoso professor, me tornei grande apreciador. Ele me conduziu aos poemas de Cecília Meireles, Drummond, Manuel Bandeira, Ferreira Gullar, Vinícius de Moraes, Olavo Bilac, João Cabral de Melo Neto, Augusto dos Anjos... Ah, aprendi a sentir os versos atravessarem-me o coração desgovernado, apaixonado. 

 

A figura do professor, do mestre, sempre foi um forte referencial em minha vida. Quando conheci Marco Antunes – professor de Literatura, escritor e ator. Funcionário da Câmara dos Deputados desde 1991 e coordenador do Núcleo de Literatura no Espaço Cultural Zumbi dos Palmares, onde ministra diversos cursos e oficinas e organiza os concorridos saraus da Câmara dos Deputados –, senti mais uma vez a oportunidade de ter junto a mim a figura marcante do orientador, do homem que nos inspira e nos desafia, que nos faz ir além de nossas expectativas em relação a nós mesmos. Graças a ele, na Oficina Desafios dos Escritores, aprimorei minha técnica e me permiti certas ousadias, como escrever textos epistolares. Meu primeiro romance jamais teria sido concebido sem o gênio crítico e vivaz desta criatura toda feita de entrega, generosidade e lirismo, um cavalheiro que transpira urbanidade, polidez e sabedoria. Talvez ele sequer saiba por que o chamo professor, pois que o mistério se desfaça nesse instante. Da mesma forma que minha professorinha de alfabetização, Tia Railde, dedicou seu tempo extra para me ajudar a superar minhas próprias limitações e fantasmas, o professor Marco Antunes também me serviu de armadura e elmo, foi para mim um tutor, um confrade, um guia. Portanto, como não chamá-lo professor? 

 

Meus outros mestres, estes eu conheci pessoalmente, tive seus corpos estreitados ao meu, em calorosos e incansáveis abraços de admiração e gratidão. Espero, em breve, realizar este sonho de menino, de aluno fascinado pelo mestre, e ter diante de meus olhos e ao alcance de minhas gratas mãos este homem singular, de fala mansa e potente, de olhos melancólicos que sorriem, dono de uma alma que mais parece uma cartilha: quem tem a oportunidade de lê-la, aprende. E cresce.

 

 28/04/2014, segunda-feira

 

 

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