LADIES AND GENTLEMEN! 

 


Ontem, presenteei-me com a estreia do espetáculo de conclusão de curso/disciplina de montagem teatral TCC I do IFCE, Turma 2011.2, Licenciatura em Teatro.


A limitação quanto ao número de pessoas que poderia compor a plateia já nos dava pistas de que os formandos haviam optado por um debutar pouco convencional.


Curiosos, adentramos o Teatro Boca Rica, na altura do nº 260 da Rua Dragão do Mar, em Fortaleza-CE e, imediatamente, sentimos a estranheza que adensava o ar e anunciava a proximidade de uma irascível tormenta.


Como o ambiente nos deixou pouco à vontade, restou-nos aguardar pelo início do visceral espetáculo CASAMATA, com direção de Luís Carlos Shinoda e texto escrito a partir das obras de Mário Bortolotto.


Desprovida do verniz social que tantas vezes nos transforma em autômatos despidos de vontade, a peça nos atira bruscamente em um universo de crueza das palavras e dos sentidos. A falta de eufemismos e polidez, a violência dos gestos, luzes e sons que vêm e vão, nos atordoam ao ponto de sentirmos que não somos meros espectadores, mas parte integrante de um experimento social.


O desconforto é inevitável.


A proximidade com a nudez da verdade (que apenas existe na mais completa miséria) possibilita a catarse que nos leva a um perturbador questionamento acerca de nós mesmos, do outro e do mundo que nos cerca e, que tantas vezes, também nos sufoca.  


Junto ao elenco ─ que magistralmente dá identidade e corpo ao texto ─ descemos pelo cano de esgoto e rastejamos em nossa própria sujeira, aquela mesma sujeira que cinicamente apagamos de selfies desmaiados, editados para retratar apenas nossa superfície irreal. E, após vertiginosa queda, bem lá no fundo, onde mais dói, estranhamente encontramos toda a poesia, toda a beleza, toda a força do espetáculo.


As casamatas estão por aí, ao nosso redor e dentro de cada um. Pessoas ilhadas, sonâmbulas, dormentes, adoecidas pela ausência de esperança que corrói feito um câncer nosso desejo de utopia.


Por mais que não queiramos, por mais que gritemos em silêncio durante a montagem "Eu não sou assim!"; é impossível não se identificar com as personagens que passeiam pelo palco como estranhos espelhos, nos quais não nos enxergamos, mas nos reconhecemos.


Assistir à coroação de um projeto teatral iniciado ainda em 2011 ─ desde o começo da formação daqueles que ontem espalharam merda no palco do Boca Rica até a inevitável ovação que marcou o final do espetáculo ─ tem um sabor especial. Tem gosto de dor de cabeça, sangue, luta, esforço, choro; pois fazer arte em nossos estado é coisa para quem tem raça, determinação e, acima de tudo, vocação, pois só o amor nos anima a nadar contra a caudalosa correnteza de ignorância e entretenimento vazio que inunda nosso país.


Apenas quando as luzes se apagaram e os aplausos emergiram de nossa satisfação, os artistas envolvidos no projeto puderam experimentar outro sabor: o da realização. E este, meus queridos, não é para qualquer paladar. Nem todo ser humano é capaz de senti-lo. Para tanto, há de ter graça. E alma.

 

Emerson Braga

07/06/2015, domingo

Comments: 4
  • #4

    Dora Gadelha (Sunday, 07 June 2015 19:28)

    O texto nos faz reviver um espetáculo maravilhoso! Forte, intenso, cortante! O elenco atuou cheio de energia, vigor, coragem!! Merecem todos os aplausos!!

  • #3

    Maíra Abreu bRocha (Sunday, 07 June 2015 08:19)

    Muito obrigada pela presença.E muito obrigada pelas palavras!

  • #2

    Leudo Duran (Sunday, 07 June 2015 07:42)

    Muito grato pelas palavras, pela presenca e pelo reconhecimento dentro do CASAMATA.
    A turma Pois Taí agradece.

  • #1

    Sara feitosa (Sunday, 07 June 2015 07:21)

    Que Genial esse texto. Revivi cada momento da peça