CONDOMÍNIO BRASIL
A rebelde Juventude, filha de Dona Indiferença e de Seu Descaso, olhou na cara de Dona Democracia e gritou:
― A senhora é uma preguiçosa! Uma falsa!
Dr. Conservadorismo ― com a desculpa de que defendia a esposa que estuprava à luz do dia ― convenceu os condôminos de que Juventude é uma drogada, uma viciada e uma menina perigosa. Trancou a garota em um quarto escuro e jogou a chave fora.
Os moradores do Condomínio Brasil não reclamaram. Acham Juventude barulhenta e irritante, uma perdida que reclama de tudo e que quer demais.
Todos sabem que, de vez em quando, Dr. Conservadorismo desce ao porão e abusa um pouco mais de Juventude. Tem inveja dela, quer vê-la morta. Mas ninguém diz nada, acreditam que os desmandos perpetrados por Dr. Conservadorismo podem ser anistiados porque os faz em nome do bom funcionamento do Condomínio Brasil.
Dona Democracia assiste a tudo impassível, não quer se meter em encrenca. Filha caçula de Sinhá Ditadura, Dona Democracia aprendeu com a mãe a fazer de conta que tudo está bem, mesmo quando crianças e adolescentes encontram-se em situação de risco.
Dr. Conservadorismo é um homem de família, que não suporta ser contrariado. Síndico rigoroso e homem temente a Deus, gosta das coisas certas. Mas suas regras não servem para seu filho Fascismo e sua enteada Demagogia. Ambos fazem o que querem: mentem, roubam, matam e extorquem; enfim, enchem o pai de orgulho.
Dona Democracia às vezes pergunta:
― Meus filhos! Por que vocês fazem isso?!
E os dois respondem em coro:
― É para o seu bem, mamãe. É para seu bem.
Trancada em sua injusta prisão, Juventude conjura:
― Quando eu sair daqui, prostituída e selvagem, mudarei meu nome. Todos me conhecerão por Sequela...
10/07/2015, sexta-feira
Emerson Braga